Ovos de Páscoa, que delícia!
Que sabor tão característico e apetecido nesta época do ano!
Esmeradamente, coloridos com cores garridas ou, simplesmente, tingidos com cascas de cebola – material de fácil acesso em todas as casas, ricas e pobres, das aldeias – folhas de hera, que lhes conferem uma tonalidade amarelada, ou beterraba, dando-lhes uma cor vermelha forte, surgem em todas as mesas na época festiva da Páscoa, em casa de cristãos e não cristãos.
As habitações, nesta quadra da Ressurreição do Cristo Crucificado, enchem-se de alegria e cor: ele são as aleluias e o alecrim, enfeitando portas e gradeamentos na recepção festiva à visita do Senhor Ressuscitado, ele é a laranja com o tostão cravado, por sobre alvas toalhas de linho, na mesa principal da casa, ele é o pão de ló, os folares da Páscoa, as amêndoas, os ovos tingidos…
Os nossos avós, tal como muitos de nós hoje, ao prepararem os ovos da Páscoa, decerto ignoravam a origem deste costume milenar, adoptado por diferentes culturas, crenças e religiões e alegremente posto em prática todos os anos, nesta época – o ovo é símbolo de vida, de nascimento e é natural que o povo tenha fixado a tradição na quadra Pascal, também ela plena deste espírito de ressurreição e vida (a título de curiosidade, este costume de origem não católica – há registos de oferendas de ovos entre os povos pagãos como símbolo comemorativo da chegada do equinócio da Primavera – passa oficialmente a ser símbolo católico no século XVIII, quando a Igreja o adopta como elemento de ressurreição e vida).
No entanto, a tradição de presentear a família e amigos com ovos coloridos, remonta aos chineses ancestrais e a época por eles escolhida para esta oferta era a comemoração da festa da Primavera – toda ela imbuída de sentimentos de vida, de renascimento, de esperança.
Adoptada, como já foi dito, por diferentes culturas, esta tradição correu mundo, mantendo-se até hoje.
No Egipto, as pessoas têm o hábito de distribuir ovos entre si, no início da Primavera, celebrando, festivamente, a chegada desta estação. Na Europa Ocidental, os ovos são cozidos e decorados com cores garridas, servindo, depois, para decorar as mesas ou serem ofertados a familiares e amigos no dia de Páscoa. Na Europa Oriental, existe o costume de as crianças esconderem um chapéu e, se o seu comportamento tiver sido bom ao longo do ano, encontrarão nele os ovos na noite anterior ao Domingo de Páscoa, como recompensa. Nos Estados Unidos, há o costume da “caça ao ovo” que, em algumas cidades, se transformou em autêntico evento comunitário. Os ovos são escondidos em casas, quintais e jardins, havendo uma verdadeira correria em busca deles. Na América Latina e Brasil, as crianças constroem ninhos de Páscoa que servem para o coelho – portador dos ovos da Páscoa e simbolizando, também, tempos de mudança ao sair da toca na época primaveril – pôr os ovos na madrugada da Páscoa. Na China celebra-se, no mesmo período, o chamado Ching-Ming ou seja, a festa da “Suprema Claridade” também conhecida como a festa da “Limpeza dos Túmulos”, levando milhares de chineses, em verdadeira romaria, aos túmulos dos seus entes mais queridos para os homenagear. Os túmulos são limpos, as pinturas reavivadas e as ofertas das mais variadas: incenso, bebidas, tabaco, patos e leitões assados, doces e outras tantas iguarias onde os ovos também imperam.
A tradição dos ovos de Páscoa, também foi apropriada pelo povo português. Desde há anos nas nossas casas, eles embelezam a mesa, eles são ofertados a familiares, a amigos e a afilhados – como elemento sagrado, como símbolo de vida ou, simplesmente, como uma das muitas tradições a preservar.
Maria Odete Nunes Madeira
Passos de Silgueiros, 12 de Fevereiro de 2007
(Chanceler-Mor da Confraria de Saberes e Sabores da Beira, “Grão Vasco”)