A FESTA DE AGOSTO

A FESTA DE AGOSTO

Uma vez apenas em cada ano. No tempo quente do Verão. Agosto.
De longe, de muito longe, no tempo; de perto e de longe, no espaço, rapazes e raparigas, novos, velhos e criançada não pensavam noutra coisa.
Que magia… Era a festa de Agosto. A festa da Senhora. De estalo!
De manhã, na igreja, agora restaurada pelo brasileiro – que também construiu a escola nova para substituir o velho pardieiro – três padres, não contando o pregador, davam a maior importância às solenidades.
À hora do sermão, não bulia uma mosca. Que bem falava o velho padre António! Aquilo, sim. O seu vozeirão subia e descia como mandava a circunstância, desde o tom altissonante do trovão ao cantar das águas cristalinas do ribeiro saltando de pedra em pedra. No fim, todos – orador e ouvintes – puxavam do tabaqueiro ou da ponta do avental; ele, para limpar o suor da calva monumental; os outros para afagar uma lágrima, condição indispensável para o nome do pregador ser respeitosamente repetido e desejado nos sermões das redondezas.
Depois, a procissão. Todos os santinhos, nos seus andores florescidos, vinham à rua para a volta grande, a volta solene das festas de Agosto – pela botica, rua do pelourinho, capela do Santo Cristo, para, de novo, tudo aos seus lugares.
E os pendões. E os anjinhos. E a multidão; cantando uns; rezando outros; agradecendo muitos as graças recebidas; pedindo ajuda para os seus problemas, quase todos.
Retornando à Igreja, quem o não fez antes da Missa, ia agora pagar as promessas e receber a estampa da Senhora.
À tarde e, depois, pela noite fora, a alegria redobrava. No adro. E, um pouco mais além, no carvalhedo – local de sombras maravilhosas e recantos delicados. Para a dança. Para a comezaina. Para o amor.
Chegada a hora, os foguetes alinhavam-se ao longo da ponte, como soldados na parada em Dia de Regimento. Os fogueteiros – dois – iam desafiar-se nos ares. Qual deles apresentaria fogo mais rijo?
— “Este ano, ganhou o de Ferreiroz.”
— “Ah fogueteiro de uma cana!”
Era assim, no passado, um passado longínquo, a festa de Agosto, a festa do dia 5, a Festa da Senhora.

A. Lopes Pires