Desde há muitos séculos e pelos motivos mais diversos, o Homem, tal como hoje, teve necessidade de se agregar com os seus semelhantes.
O desejo de prestar auxílio, de sobreviver ou de regrar a conduta humana como meio de facilitar a vida em sociedade norteou a origem dessas comunidades.
É pois, com base nestas necessidades que surgem na Idade Média as confrarias. De carácter semi-laico ou semi-religioso, proliferam por toda a Europa no século XII, atingindo o seu apogeu no século XIII, muito graças à acção das ordens mendicantes destacando-se, neste caso, a ordem franciscana, a quem se deve a origem de muitas confrarias que então surgiram.
A ideologia cristã esteve na base da criação da maioria das confrarias medievais, erigidas ao redor de capelas e igrejas, cujo orago era também o seu patrono.
Segundo Pedro Penteado , existem vários tipos de confrarias, a saber:
— As de índole Penitencial, cuja acção é, essencialmente, de expiação dos pecados, recorrendo à flagelação ou a outras práticas disciplinares como forma de atenuar eventuais falhas cometidas;
— As Caritativas, centradas na prática da caridade e da beneficência cristãs, prestando auxílio aos mais necessitados (na morte, na doença, na pobreza, na solidão, entre tantas outras carências);
— As Devocionais, direccionadas para a celebração de uma devoção especial, como a Imaculada Conceição, por exemplo, e que visam, também, promover outras devoções como acontece com as confrarias religiosas encarregadas de promover o culto e a festa nos santuários;
— As de Ofícios que, apesar de terem na sua base um fim cultual, se preocupam com o reforço da sociabilidade e da integração profissional dos seus membros.
Após um longo período de quase total inércia, eis que nos finais do século XX o movimento confrádico ressurge e prolifera por todo o país a um ritmo acelerado. Para além da conotação religiosa que sempre esteve inerente às confrarias de outros tempos, o desejo de preservar, defender, promover e divulgar o que é nosso e melhor nos identifica, quer dentro quer além fronteiras, levou o Homem a unir-se, a criar as confrarias assumindo o compromisso de divulgar a sua Gastronomia, o seu Vinho, os seus Usos e Costumes, enfim as suas mais genuínas marcas culturais.
Em Viseu esse desejo fez nascer em 2002 a Confraria de Saberes e Sabores da Beira “Grão Vasco” que, de acordo com o Art.º 3.º dos seus Estatutos, se vê obrigada a:
– “Promover e divulgar a gastronomia tradicional da Beira nas suas diversas componentes e bem assim os vinhos e bebidas espirituosas produzidas em terras beirãs”;
– “Investigar e pugnar pela genuinidade da culinária autóctone da Beira”;
– “Patrocinar a recolha de usos e costumes tradicionais dando-lhe a respectiva divulgação”;
– “Incentivar a edição de trabalhos audiovisuais e escritos sobre cultura regional”;
– “Realizar acções de carácter cultural que consubstanciem a defesa e a preservação do património gastro-enófilo da Beira”;
– “Incrementar de forma pedagógica junto dos estabelecimentos de restauração e afins a preservação da gastronomia beirã”
Ao longo destes 7 anos de actividade, pensamos ter cumprido o objectivo primeiro que uniu tanta gente de boa vontade nesta tão nobre causa e, embora se tenha de debater com as dificuldades habituais nestes movimentos, esperamos que possa continuar a fazê-lo por muitos anos, pois a nossa Cultura é e será sempre a marca que nos distinguirá de todos os outros povos.
Maria Odete Madeira
(Chanceler-Mor da Confraria de Saberes e Sabores da Beira, “Grão Vasco”
A titulo de curiosidade, aqui fica uma lista de algumas das várias publicações desta CONFRARIA