A LENDA DO VINHO DO DÃO

A LENDA DO VINHO DO DÃO

A LENDA DO VINHO DO DÃO

Perto daquele local encontrava-se um casal de lusitanos com seu filho, junto a uma pequena cabana de pedra e troncos.
Baco ao vê-los correu para eles gritando:
— Pelos deuses, tende piedade deste pobre caminhante e dai-me de beber!
O bom homem entrou na cabana e regressou com uma escudela de barro cozida ao sol, cheia de água.
— Água?! Acaso não tendes vinho?
O lusitano arregalou os olhos, cofiou a barba e disse, entre admirado e espantado:
— Vinho? O que vem a ser isso de vinho? Quereis vós comida?
E sem esperar resposta, entrou na cabana e voltou com uma perna de cabrito assada.
Baco comeu e à despedida, comovido pela generosa hospitalidade do bom luso, disse-lhe:
— Ainda um dia hás-de saber o que é o vinho. E, sem mais, partiu acenando um último adeus aos seus anfitriões.
Anos mais tarde, uma centúria romana marchava por terras lusas e, ao ver a cabana do lusitano, parou.
Os legionários deixaram a forma e cada um deles abriu uma vala na qual colocaram uma videira.
No final, voltaram à formatura e partiram tão silenciosamente como haviam chegado. Num dos bacelos deixaram uma tabuleta com a seguinte mensagem:
“Baco oferece reconhecido”.
A seu tempo, aquelas videiras deram o seu fruto que o luso, por intuição ou intervenção divina espremeu e deixou a repousar até ao Inverno seguinte. Quando, finalmente, o provou ficou maravilhado com tão delicioso néctar.
Assim, da generosidade de um pobre lusitano e do reconhecimento do bom Baco, nasceu o generoso e salutar Vinho do Dão.

(Capítulo de Verão/Dia Nacional do Vinho – 5 de Julho de 2008)
Adaptado por Maria Odete Madeira
(Chanceler-Mor da Confraria de Saberes e Sabores da Beira, “Grão Vasco”)